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iPad ou Papel? papel.com.br

quarta-feira, 6 de abril de 2011



Achei esse texto extremamente interessante e empolgante. Retrata perfeitamente a real necessidade humana de se manter informado a todo custo, e demonstra o quanto estamos conectados 24 horas com o mundo. O texto é da Giuliana Vaia ( uma cronista MARAVILHOSA que acompanho há mais ou menos 1 ano através do blog: lulunaodorme.blogspot.com ) . Ela com toda a sua sabedoria descreve perfeitamente o nosso momento cibernético!


PAPEL.COM.BR
Por: Giuliana Vaia - malvadezas.com

Vim aqui defender o papel do papel enquanto papel na sociedade.


Sou tarada por tecnologias, é uma verdade. A velocidade com que as notícias correm pelo mundo internético me fascinam, além de que, adoro ler. Ler é meu grande barato. Tudo que me dá acesso a informação e ao conhecimento, me conecta ao plano divino (quer dizer, depende do tipo de conexão né, porque a 3G vô ticontá.)

Até aí tudo bem, só que apesar dessas minhas duas paixões conviverem bem, algo soa incongruente aos meus sentimentos, que é ler qualquer coisa por aquele negocinho ultramegatecnológico que parece um livro, tem o formato de um livro, mas não é um livro. IPad, sacam?

E porque vim aqui discutir meu gosto papelístico? Porque não pensei em nada mais atractive e tô de férias na praia, curtindo um bicho geográfico num mar cheio de cocô, cercada de trombadinhas(uma dica: não é RJ) e tava aqui matutando… poxa vida, nem li as notícias de hoje e num átimo de segundo, sucumbi e desejei um iPad. Mas me recuperei rapidamente e lembrei que não simpatizo com o negócio. Na verdade odeio um iPad com toda a força do meu ser.

iPad é perigoso, alguém pode me violentar e subtrair meu brinquedo só pra comprar psicotrópicos e… bom não era bem aí que eu queria chegar…

Por que existe um iPad? Quem de verdade deseja ter um iPad? Quem usa iPad? iPad é supérfluo, desnecessário, além de não ter o charme do papel, o brilho no olhar que o papel tem (oi?) o corpo do papel, o calor humano do papel(oi2?) enfim… é uma máquina, só uma máquina. Quem realmente precisa de um iPad, se já temos o computador?

O negócio é que gosto mesmo do papel.Gosto não, tenho paixão. O cheiro, a textura, as letrinhas impressas em CMYK num couché gramatura 90; tem coisa mais carregada de emoção? Lamber o dedo pra virar a página, grifar as partes mais importantes de um livro (embora considere isso um crime), fazer barquinhos com as inúmeras páginas de propaganda do Etna; matar drosófilas na fruteira com uma Veja; se abanar num banheiro abafado com Fernando Pessoa quando o ‘serviço’ tá difícil; desenhar chifres na Carol Dieckman quando fala ao telefone, traduzindo inconscientemente seu ódio por ela estar exibindo aquela (falta de) barriga na capa da Corpo a Corpo.

É… nada tem o tchã, o it, o borogodó do papel (só o Javier Bardem)
E diz aí, quando que você ia poder dar um tapa num pernilongo com um iPad?
Falemos das revistas, ahhh as revistas…Tenho um porção delas. Coleção. De todos os tipos cores tamanhos e assuntos, com direito a páginas amareladas de tão velhas. Verdadeira relíquias. Tenho uma estante só de revistas separadas por ordem de assunto: Yoga e filosofia hinduísta, pra quando tô puta com a vida e com uma aura negativa. Boa Forma, pra quando quero perder 25 quilos em um dia. Cláudia, pra quando quero ser mãe- esposa- executiva exemplar. Nova, pra quando quero ser vacona, como dizia um professor meu da faculdade: “Nova é a revista da secretária vacona”. Ana Maria, pra quando desce o espírito orkutiano e quero preparar um pavê de bolacha Maria. Caras pra me interar de quantas vezes Rihanna apanhou na última semana enquanto retoco a raiz. Manequim, pra aprender a customizar abadás (quem não quer aprender a customizar abadás, gente?). Playboy (hein?), ahh pra ler as piadas, claro. Gosto, pra quando bate aquela vontadinha de comer vieiras grillé com raspas de trufas brancas e redução de vinho do porto as 2h da manhã (eu e Chiquinho Scarpa). Superinteressante pra saber como o pensamento lógico do hemisfério esquerdo do cérebro predomina sobre o direito. Psicologia, pra estudar sobre os arquétipos junguianos que povoam o inconsciente coletivo através da abordagem simbólica e hermenêutica (locão esse Jung). Negócios, pra…pra quê mesmo? Filosofia, pra me aprofundar na teoria moral Kantiana. História da arte, pra amar ainda mais o Monet….

E os Livros? Livros são o papel de parede da minha casa. Livros de todos os assuntos, sabores, cores texturas; livrinhos e livrões. Neruda com Dom Casmurro. Hiroshima e Lobão. Philip Roth de mãos dadas com Veríssimo. Nietzsche e Saramago. Vidas Secas, Yalon, Millor e Shopenhauer. Nabokov encostado nas putas tristes de Márquez. Drummond juntinho com Grisham. Todos dividindo pacificamente o mesmo espaço.

Leio no box antes de entrar no banho, leio cozinhando, leio andando, no carro, no ônibus –Pausa: confesso que com o advento do twitter, meu hábito de leitura passou de 300 páginas para 140 caracteres, por uma simples questão de administração de tempo. Sim, me envergonho disso -Despausa. Livro é minha cocaína. Não tem nada mais reconfortante que ir ao banheiro com um Paulo Coelho, porque né? Se acabar o Neve, você pode limpar o……enfim, não tenho preconceitos, leio tudo que cai na minha mão (mentira! Paulo Coelho ainda não tive coragem.)


Com um pouco de água e pão, moraria tranquilamente na livraria cultura do Villa Lobos. Meu oásis.

Agora tem uma coisa que é feita de papel que não me atrai. O velho jornal. Não curto o jornal em nenhum de seus formatos: tablóide, standart, berliner ou pocket. Jornal é desconfortável e fede, além de sujar as mãos. Jornal tem notícias velhas, de ontem! Quem quer ler notícias de ontem? Notícia de cinco minutos atrás, pra mim, já é notícia velha e a internet ta aí pra isso. É só apertar um refresh e pimba! Tudo atualizadinho e fresquinho. E de repente você tá lá na praia, com o pé cheio de bicho na areia, sem saber o que o que esta acontecendo no mundo, o que as pessoas estão fazendo, no que estão pensando, e se lembra que sua coleção de livros e revistas estão a 200km de distância, seu computador está preso a sua mesa de trabalho, seu notebook de repente virou um puta trambolho, a tela do celular é pequena demais pra se ler qualquer coisa por que dói a vista, e você tá sem saber se Bolsonaro foi cassado, ou curiosa pra saber a quantas anda a Líbia ou quem fez os gols do Paulistão.

Essa defasagem de atualização vai criando uma agonia crescente em meu peito, um comichão, uma coceira, uma falta de ar, uma tremedeira angustiante, ânsia de vômito, taquicardia e PORRA! Como eu preciso de um iPad! Como vivi até hoje sem um iPad? Como pessoas sobrevivem sem iPad? Se Maslow estivesse vivo, iPad viria antes de alimento e sexo em sua pirâmide hierárquica, certeza! Tô com uma necessidade quase fisiológica de possuir um iPad! Daria um braço, ou melhor, morreria por um iPad agora.

Mas um iPad 2, por favor! Porque se quisesse alguma coisa ultrapassada, ficaria com o papel. Afinal, não me contento com pouca bosta.

Logout.


Segue o texto no blog de origem: http://segue.se/VQy





Priscylla Duarte | Jornalista
@priscylladuarte

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